Mesmo tendo nascido em Porto Alegre, desde que eu me sinto gente, uma outra cidade faz parte da minha vida: São Luiz Gonzaga.
Meu avô Sampaio,
pai do meu pai, chegou à cidade em 1921 como Juiz de Direito. Conheceu minha
avó Dulce, casaram e lá nasceram meu pai e meus tio João. Seis anos depois,
eles saíram de lá.
A família da minha avó era tradicional na
cidade, “os Gomes”. Meu bisavô, o Cel. Raymundo Gomes Netto, prefeito da cidade
entre 1938 e 1941, foi um importante líder político. Nunca o conheci, nem à
minha bisavó Ernestina, mas, o Padrinho e a Madrinha (como eram chamados pela
família) estiveram presentes na minha infância.
Meus avós,
quando os filhos eram pequenos e adolescentes, passavam as férias em São Luiz.
A terra vermelha, o “footing” em volta da praça, o calor intenso no verão, o
muito frio do inverno, os parentes são-luizenses (que muitos só conhecia de
nome), as histórias da cidade, a loja do seu Odil, tudo isto também fez parte
da minha infância.
O mundo deu
voltas, voltas e mais voltas e não é que eu casei com um são-luizense? Pois é,
casei com o Xico, filho da Dona Edilia e do Seu Odil Martins, aquele da loja...
Na semana
passada, no auge do inverno gaúcho, Xico e eu fomos a São Luiz Gonzaga. Ele
viveu lá até 1962 (quando tinha 15 anos) e desde 1998 não voltava. Eu só conhecia
a cidade por relatos, fotografias e por uma passagem rapidíssima (durante uma
hora em 2003, numa viagem às Missões).
Foi uma grande
emoção e uma bela surpresa!
A cidade é
extremamente arborizada e bonita. A bem cuidada praça central, em frente à
imponente Igreja Matriz, os prédios históricos, a limpeza da cidade, a
quantidade de lojas (que para mim demonstrou o bom momento econômico que vive a
cidade), a simpatia e a hospitalidade das pessoas, a tranquilidade que nos
trazem as coxilhas que se avista ao longe... Tudo isto me impressionou muito.
E, aos poucos, fui encontrando o meu passado e o do Xico.
Visitei alguns
daqueles parentes que eu só conhecia de nome e a experiência foi maravilhosa. O
fato de termos a mesma origem em seguida nos aproximou e eu me senti em casa.
Temos a mesma história!
Visitei, também,
a casa dos meus bisavós (onde nasceu meu pai em 1927), lindamente restaurada
por uma prima.
Caminhei com o
Xico os caminhos da sua infância e estive nos lugares onde aconteceram as
histórias que ele me conta. Na esquina da praça, ainda está o prédio da “Casa
Gaúcha”, que durante 65 anos foi a loja mais importante da região.
A casa em que ele morava com os nove
irmãos, também está lá, e guarda a história dos Sommer Martins.
Visitamos o jornal “A Notícia”, uma
instituição na cidade e, com muita honra, viramos notícia, com direito à foto e
à publicação de um escrito meu.
Com surpresa, vi que ainda existe
aquele “footing”, tão decantado pelas minhas tias! Como há 60 anos, os jovens
em São Luiz ainda caminham em volta da praça depois da missa de domingo. Mas,
como estava muito frio, a maioria somente dava voltas de carro chegando a
provocar um pequeno congestionamento!
São Luiz Gonzaga é uma cidade que tem
História e um povo que se orgulha dela.
Fundada pelos jesuítas no século XVII,
foi um dos povoados da “República Guarani”. É são-luizense o herói Sepé Tiaraju,
que comandou os indígenas na luta por suas terras. Lá, foi criado o primeiro partido republicano
do Rio Grande do Sul pelo Senador Pinheiro Machado, que viveu na cidade grande
parte da sua vida. Nos anos 20, “hospedou” por dois meses os homens da Coluna
Prestes que, reza a lenda, teria saído de lá sem pagar as contas. E por ai
vai...
São Luiz tem
museu municipal, associação de escritores, livraria e cinema. Valoriza e
homenageia seus artistas e o maior deles, Jaime Caetano Braun, ganhou uma bela
e imponente estátua na entrada da cidade.
Resumindo,
voltei encantada com São Luiz Gonzaga, onde a terra ainda é vermelha e “tem
dono”, como disse uma vez Sepé Tiaraju!
Casa dos meus bisavós:
Xico e eu. Ao fundo, o prédio onde foi a "Casa Gaúcha"