20.12.12

Quem diria...




               
          
E não é que o mundo acabou mesmo? Pois é, acabou, ponto final e não há nada pra fazer!
Quem diria? E eu que tinha certeza de que esta história de “fim do mundo” era bobagem...              
Calendário maia, quem iria acreditar?
Mas, se conseguirmos parar e pensar um pouquinho só, vamos perceber que não acabou de repente. Foi acabando aos poucos e a gente nem deu bola!
Lá pelas tantas, inventamos os “arranha-céus” e as cidades do nosso, até então, pacato mundo foram sendo aos poucos invadidas por eles. Se multiplicaram e se espalharam por todas as cidades, grandes e pequenas, e nós adoramos!
Com o passar do tempo, começamos a construí-los um ao lado do outro, ao lado do outro, ao lado do outro, cada vez mais perto um do outro, mais perto um do outro e cada vez mais altos, mais altos e mais altos. E assim, havia cada vez menos sol e menos vento e cada vez mais gente morava empilhada. Mas, nós gostávamos de morar empilhados!
Lá pelas outras tantas, fomos enchendo o mundo com carros e motos e quando vimos havia milhões deles. Com o passar do tempo foram ficando cada vez mais parados, um atrás do outro, porque não tinha mais lugar para todos. E faziam uma barulheira danada, motor, buzinas... Mas, nós fomos nos acostumando!
E as fábricas não paravam de produzi-los e cada vez produziam mais. Fomos transformando o mundo em um congestionamento gigante. Mas, nós não nos importávamos porque todos nós queríamos ter o nosso carro, a nossa moto, o nosso...
E fomos sujando o ar que respirávamos!  Não só por causa dos carros e das motos, mas também por causa das fábricas. Precisávamos produzir porque precisávamos comer, vestir e comprar, comprar, comprar e comprar muito!
E cada vez nascia mais gente e cada vez vivíamos mais! O mundo estava ficando superlotado e fomos colocando cada vez mais produtos químicos na comida e nas bebidas e fomos colocando cada vez mais veneno nas plantações. Fomos nos entupindo com novos produtos, novos produtos, novos produtos e novas porcarias, novas porcarias e muita porcaria. Mas, não víamos problema nisto!
Cada vez usávamos mais coisas feitas de plástico e cada vez produzíamos mais e mais e mais lixo! Já não havia onde colocá-lo, mas, nós não achávamos que isto fosse problema nosso!
E sujamos também as águas... Mas, íamos vivendo, sem nenhuma reflexão.
Para que pararmos pra pensar se tínhamos a televisão? Logo que apareceu, ela parecia inofensiva. Mas, nos últimos tempos (que não sabíamos que seriam os últimos) ela tinha um lugar de honra nas nossas casas e em quase todos os lugares. Preenchia todos os espaços das nossas mentes, não vivíamos sem ela, mas, achávamos bom!
Também não vivíamos sem os computadores e sem os telefones celulares. Sem a internet então, nem pensar!
Até ontem, enquanto o mundo marchava para o seu final, nós ficávamos a maior parte do tempo parados na frente da TV, dos computadores e agarrados aos nossos telefones celulares. Passávamos horas e horas dos dias e das noites na internet, nas tais redes sociais, falando nos celulares... Enfim, quase não falávamos mais “olho no olho”, mas, nós gostávamos disto!
Muitos de nós preenchíamos a necessidade de contato que ainda tínhamos conversando com nossos novos companheiros: os gatos, os cachorros, porquinhos e até cobras. Achávamos ótimo, porque os nossos bichinhos de estimação sempre concordavam conosco e estavam sempre dispostos a nos escutar atentamente!
E lá pelas outras e outras tantas, sabe-se lá porque, o nosso objetivo na vida era só a alegria e a felicidade!  Era obrigatório sermos alegres e felizes, muito alegres e muito felizes, sempre!   
Achávamos até que era preciso tomar remédio contra a tristeza, porque ninguém mais podia ficar triste por alguma coisa triste de verdade. E, então, dê-lhe remédio, remédio, remédio! Dê-lhe bebida, bebida e bebida! Dê-lhe comida, comida e comida! Dê-lhe drogas, drogas, muitas drogas!
E dê-lhe mesmo alegria e felicidade?
Cada vez fazíamos mais festas para comemorar tudo e qualquer coisa. Qualquer motivo era motivo! Não fazia mal que ficássemos obesos ou dependentes, com a saúde abalada. Não fazia mal que motoristas bêbados e pessoas entupidas de drogas matassem gente e se matassem.
A violência foi crescendo, mas o que importava era estarmos alegres e felizes. Pelo menos era isto que dizia a publicidade que nos acompanhava em todos os momentos do dia de todos os dias da nossa vida!  E nós acreditamos...
Assim, feliz e alegremente, o tempo foi passando. E a gente compartilhava, curtia, comentava, tuitava, assinava abaixo-assinados virtuais, fazia marchas por tudo e qualquer coisa e festejava, festejava muito.
Quando nos demos conta...
Não adiantou corrermos para os aeroportos porque estavam todos lotados, com gente correndo de um lado para o outro. Os aviões nem podiam voar porque as pistas também estavam cheias de gente...
Não adiantou querermos sair das cidades porque as estradas estavam cheias de carros, motos, caminhões, bicicletas, todos parados! Trem não havia e os navios também estavam cheios de gente e alguns até afundaram por isto.
Mas, ir para onde?
Não havia mais para onde, não havia o que fazer porque era mesmo o fim do mundo!
Só que ele foi acabando aos poucos e a gente fingiu que não viu...
 p.s.1- escrevi este texto sobre o “fim do mundo” porque fui desafiada. Não acredito que o mundo vá acabar. Se acabar alguma coisa, certamente, vai ser a raça humana!
p.s.2- mas, por via das dúvidas, não gostaria que o meu marido Xico estivesse longe de mim no dia 21 de dezembro de 2012;
p.s.3- obrigada Beatriz Fagundes, da Rádio Pampa de Porto Alegre, que me inspirou;

p.s.4- será engano meu ou no centro da pedra do calendário maia tem um cara botando a língua pra nós? 


3 comentários:

Ricardo Dagnino disse...

Muito bom, vou colocar no meu blog.

beijo

Ricardo Dagnino disse...

Muito bom!! Vou colocar um link no meu. beijo

Maria Lucia disse...

Fico feliz, Filhote! Beijo