21.12.13

Iguape



No ano de 2004, em Porto Alegre, lancei o CD “Canções de Antigamente”.
Em função disto, dei uma entrevista à Rádio Gaúcha.
O programa era à tarde, mas como fez sucesso, foi reprisado na madrugada do fim de semana.

Em Iguape, no vale da Ribeira (São Paulo), um casal me escutou cantando as canções de antigamente e gostou.
Como eu havia divulgado meu e-mail durante a entrevista, eles enviaram uma mensagem: o casal, Wanda e Luiz, queriam comprar o meu CD.
Naturalmente, enviei um CD para eles de presente.

Começamos a trocar mensagens e, à distância, nos tornamos amigos.
Um dia, Luiz me contou que Wanda estava muito doente e lutando para viver.
Algum tempo depois, com uma linda dedicatória, recebi o livro escrito por ela neste momento difícil.
Mas, infelizmente, a doença venceu e sua morte me deixou triste.

Luiz e eu continuamos a troca de mensagens e passei a receber a “Tribuna de Iguape”, onde ele mantém uma coluna. O nascimento dos meus netinhos foi noticiado no jornal.
E assim, comecei a conhecer um pouco mais Iguape. As fotos desta cidade histórica me encantaram.
Pelo Facebook, comecei a acompanhar, também, o crescimento de Henrique, seu único neto, e as aventuras dos dois.

Agora, em 2013, Luiz e eu nos encontramos.
Numa viagem a São Paulo, Xico e eu fomos a Iguape.
Eu estava um pouco preocupada. Não sabia como seria este encontro, porque nunca nos havíamos visto...

E foi um belíssimo encontro!
Luiz nos esperava com Adriana, sua namorada, e não pareceu em momento algum  que estávamos nos vendo pela primeira vez. Realmente, já éramos amigos há muito tempo.
Ele nos levou à sua casa, onde nos esperava um delicioso almoço, com peixes e com suco de butiá (que nós não conhecíamos).
Depois, nos apresentaram a cidade.
Ficamos encantados com Iguape, com seus casarões, suas igrejas, sua arquitetura e suas histórias.

Xico e eu tínhamos pouco tempo e, por isto, a visita foi muito rápida, mas nossos corações ficaram agradecidos pela acolhida que tivemos.
E, por isto, queremos que este seja o primeiro de muitos encontros!


p.s. clique na foto para ver o álbum.



E publico aqui uma das crônicas escritas por Luiz Roberto de Oliveira Fortes na "Tribuna de Iguape".


OS ALMENDRADOS
Depois de nos esgueirarmos sob as marquises, escondendo-nos da chuva fina e fria que caía sobre Coimbra, eu e minha filha Gláucia embocamos numa jeitosa "leitaria" para o nosso indefectível café da tarde. Acomodados e atendidos, procurei na vitrine algum doce diferente para acompanhar o “tonel” de café. Os meus olhos escolheram o que parecia ser um biscoito. Fui servido, comi um e mais outro e a vontade ainda era repetir. Perguntei depois o nome do doce, cuja resposta, no sotaque lusitano, soou como “almedrunhos”.
Já por aqui, queria provar de novo o doce que me enchera o paladar e a alma. O “google”, a quem tudo buscamos, não me mostrou nada como “almendrunhos”. Tentei as combinações de letras e sílabas até chegar em almendrados, cuja descrição conferia com o que eu havia comido em Portugal. Logo vi as receitas, os ingredientes e o modo de fazer. Comprei o que precisava e solicitei que fosse tentada em minha casa.
À tarde, ansioso como quem espera um presente, já da porta senti que o doce havia sido feito. Estavam lá, guardados num vidro de boca grande, desses próprios para as crianças encherem as mãos sem dificuldade. O sabor estava excelente, mas não estavam macios, talvez porque tivessem ficado mais tempo no forno do que o necessário.
Comprei mais duas, três, quatro vezes os ingredientes. Tentamos fazer novamente. Mas, ou a massa ficava mole demais e escorria pela assadeira ou ficava dura demais, dificultando a mastigação.
Conversei com a doceira da esquina do Hotel São Paulo, para que ela me dissesse porque a massa não dava certo, mas a sua explicação, bem intencionada, envolvendo até o clima, não convenceu.
Num dia destes, almoçando no centro de São Paulo, ouvi alguém falar da Casa Mathilde, uma doceria portuguesa na Praça Antonio Prado. Não deu outra, depois do almoço, rumei pela São Bento até esse estabelecimento, onde, num belo ambiente, me deliciei mais de doces portugueses do que havia feito em Portugal. Inclusive do pastel de nata, em tudo idêntico ao célebre Pastel de Belém, o orgulho da culinária lisboeta.
Mas nem ali encontrei, como desejava, os tais almendrados, que podem ser típicos do Algarve, do Alentejo e até das Ilhas Canárias, onde certamente os teria provado o noviço José de Anchieta. A atendente me disse que esses docinhos caseiros não se prestam ao grande comércio, cujos produtos têm que ser procurados e vendidos em quantidades que deem lucro o seu fazer.
O fato é que, até agora não consegui fazer os almendrados como os provei em Coimbra. E, como em conversas acabei despertando a vontade alheia, estou a devê-los a dona Mariazinha que, também sem tê-los provado, tornou-se uma pretendente a essa iguaria de além-mar.

Penso até que os almendrados de lá não sejam melhores que os tantos doces daqui, mas que o sabor de lá deve estar na nossa alma, fazendo parte de nós, desde que aquele nosso remoto ascendente os provou pela última vez, no regaço do lar, entre pais e irmãos, e partiu para o Brasil. E o seu paladar saudoso busca ainda - através de nós - o sabor almendrado que ficou para trás.


Nenhum comentário: