Imagino que muitos de vocês tenham recebido, há uns quatro anos, uma mensagem com este título.
Como o caso aconteceu comigo e hoje é o Dia Mundial de Combate à violência contra o Idoso, resolvi contar.
Como o caso aconteceu comigo e hoje é o Dia Mundial de Combate à violência contra o Idoso, resolvi contar.
Era o dia 6 de outubro de 2008, numa tarde em Porto Alegre, e eu
estava na direção do meu carro na rua 24 de Outubro quando fui “fechada” por um
enorme jipe amarelo com um jovem na direção.
Levei um susto, buzinei e ele parou o carro abruptamente. Ficou me
encarando pelo retrovisor sem me deixar prosseguir.
Eu, por trás do vidro, disse “- não seja babaca, menino”. Ele
entendeu, engatou uma ré e encostou o seu carro no meu. Depois, entrou no
“drive-thru” do MacDonald´s, eu também entrei, mas ele parou impedindo a
passagem do meu carro.
Resolvi descer para conversar, por tratar-se de um jovem daqueles
"de bem" em companhia da namorada. Quando me aproximei da janela, ele
começou a gritar: “- tu vai apanhar, velha, eu vou dar em ti, velha, velha
filha da puta” e outros palavrões. Me olhou de cima a baixo e disse com muito
desprezo: “- olha aí o que tu és: uma velha!”
Fiquei bastante assustada com a reação dele (mesmo antes de eu falar
qualquer coisa) e voltei imediatamente para o meu carro. Resolvi fotografar o
jipe para ter o número da placa e, quem sabe, poder saber quem ele era.
Quando o rapaz me viu fotografando, começou a fazer gestos obscenos
(um dos quais fotografei) e a gritar pedindo para eu colocar as fotos no orkut
dele, que iria procurar a minha filha no orkut, come-la e depois mata-la. Mas,
por sorte, eu conhecia o funcionamento do Orkut e isto não me assustou. Mas,
apesar disto, abri a janela e perguntei seu nome para procurá-lo...
O segurança do MacDonald´s, por enquanto, só observava e eu, já
arrependida por ter entrado e muito incomodada com aquilo, não podia sair com
meu carro porque estava 'embretada'.
Para meu pavor, o rapaz saiu do carro e veio na minha direção. Eu
tinha deixado a janela completamente aberta e não tive tempo de fechá-la (o
fechamento era manual). Ele colocou o corpo para dentro do meu carro, eu o
empurrei para fora e ele “avançou” no meu braço, apertando com força e me
machucando.
Neste momento o segurança interferiu, afastando o rapaz e se colocando
na frente da janela do meu carro. O rapaz ficou furioso dizendo que só queria
me dar um beijinho e o segurança teve que ameaçar com a Brigada Militar. Depois
disto, o segurança me ajudou a sair de ré e o rapaz ficou me debochando e rindo
muito, afinal, eu era só uma velha!
No dia seguinte, fui à Delegacia da Mulher, mas o meu caso era para a
Delegacia do Idoso, já que eu já tinha 60 anos... Me senti uma velha
velhíssima, mas logo depois fiquei feliz por viver em um país que tem leis para
defender os velhos!
Eu não tinha nenhuma expectativa quanto a uma possível punição, mas
queria que este jovem aprendesse que ele não é todo poderoso só porque faz
parte desta pequena fatia de privilegiados, da qual também faço parte, chamada
'classe média'!
Resolvi mandar um e-mail para os amigos com este relato e anexei a
foto do rapaz.
Acontece que algum ou alguns dos meus amigos passou adiante a mensagem
e o texto foi indo, foi indo, foi indo e ganhou anexos, e foi indo, foi indo, foi
indo e virou um spam.
Não tinha o meu nome, o título era O BABACA DE PORTO ALEGRE (o título
que eu tinha dado à mensagem era “O filhinho da mamãe e do papai!”). E também ganhou
um novo cabeçalho: “Repassem para o maior número de pessoas possíveis!!! Até
que este babaca se torne bem conhecido como "O BABACA DE PORTO
ALEGRE"!!! Quem o encontrar, favor encaminhá-lo para o Zoológico mais
próximo... solicitar cela separada...”
E o pior de tudo, ganhou uma “autora” com nome e telefone, uma pessoa
que conheci na adolescência e que é hoje uma advogada famosa... Só que a
coitada não tinha nicasdepitibiribas a ver com o assunto.
A internet é uma doideira mesmo...
Só que mais doido foi o que aconteceu no dia seguinte!
Fui almoçar na casa de uma amiga e entrei pela garagem do edifício e o
que encontrei lá?
Encontrei o jipe amarelo do dia anterior!
Moral da história, descobri que o valentão era filho único de um
conhecido psiquiatra da cidade, se preparando para o vestibular de medicina e eu
estava certa, ele era mesmo um “filhinho da mamãe e do papai”.
Dias depois recebi um telefonema do papai-psiquiatra, no meu celular
(que não sei como ele conseguiu), me coagindo a retirar a queixa, dizendo saber
quem eu era, que sabia que eu era "de esquerda", que eu tinha
preconceito contra jovens e que era só um problema de gerações diferentes! Me
senti invadida na minha privacidade e muuuuuuuuuuuito mal porque, num primeiro
momento, pensei que ele tinha ligado para se desculpar.
E quem é o mais babaca: o papai ou o filhinho?
p.s. 1 – Antes de iniciar a audiência os dois advogados do rapaz
propuseram um “acordo”: retirariam o processo por danos morais que havia contra
mim (que eu nem sabia que existia, em função da repercussão do meu e-mail) se
eu encerrasse o processo sobre a agressão.
Obviamente, não aceitei. Não tive nenhuma responsabilidade pela
mensagem ter se espalhado e como diz a sabedoria popular (que às vezes se
engana): quem não deve não teme.
Logo no início da audiência o juiz perguntou se havia outro processo e
eles disseram que não. Eles haviam blefado!
O rapaz foi condenado a prestar 60 horas (4 horas semanais por 15
semanas) de trabalho voluntário com velhos, num local definido pelo MP e
durante 5 anos não poderá cometer nenhum delito sob pena de perda da condição
de primário.
Espero que tenha aprendido a respeitar não só os velhos, mas a todos!
Nem que seja só por medo. Quanto ao pai, não sei se ainda tem conserto.
p.s. 2, atualizando. Hoje, em 2020, o rapazinho é um psicanalista!