27.7.12

Passado e presente, um presente!




      Mesmo tendo nascido em Porto Alegre, desde que eu me sinto gente, uma outra cidade faz parte da minha vida: São Luiz Gonzaga.
      Meu avô Sampaio, pai do meu pai, chegou à cidade em 1921 como Juiz de Direito. Conheceu minha avó Dulce, casaram e lá nasceram meu pai e meus tio João. Seis anos depois, eles saíram de lá.
      A família da minha avó era tradicional na cidade, “os Gomes”. Meu bisavô, o Cel. Raymundo Gomes Netto, prefeito da cidade entre 1938 e 1941, foi um importante líder político. Nunca o conheci, nem à minha bisavó Ernestina, mas, o Padrinho e a Madrinha (como eram chamados pela família) estiveram presentes na minha infância.
      Meus avós, quando os filhos eram pequenos e adolescentes, passavam as férias em São Luiz. A terra vermelha, o “footing” em volta da praça, o calor intenso no verão, o muito frio do inverno, os parentes são-luizenses (que muitos só conhecia de nome), as histórias da cidade, a loja do seu Odil, tudo isto também fez parte da minha infância.
      O mundo deu voltas, voltas e mais voltas e não é que eu casei com um são-luizense? Pois é, casei com o Xico, filho da Dona Edilia e do Seu Odil Martins, aquele da loja...
      Na semana passada, no auge do inverno gaúcho, Xico e eu fomos a São Luiz Gonzaga. Ele viveu lá até 1962 (quando tinha 15 anos) e desde 1998 não voltava. Eu só conhecia a cidade por relatos, fotografias e por uma passagem rapidíssima (durante uma hora em 2003, numa viagem às Missões).
      Foi uma grande emoção e uma bela surpresa!
      A cidade é extremamente arborizada e bonita. A bem cuidada praça central, em frente à imponente Igreja Matriz, os prédios históricos, a limpeza da cidade, a quantidade de lojas (que para mim demonstrou o bom momento econômico que vive a cidade), a simpatia e a hospitalidade das pessoas, a tranquilidade que nos trazem as coxilhas que se avista ao longe... Tudo isto me impressionou muito. E, aos poucos, fui encontrando o meu passado e o do Xico.
      Visitei alguns daqueles parentes que eu só conhecia de nome e a experiência foi maravilhosa. O fato de termos a mesma origem em seguida nos aproximou e eu me senti em casa. Temos a mesma história!
      Visitei, também, a casa dos meus bisavós (onde nasceu meu pai em 1927), lindamente restaurada por uma prima.
      Caminhei com o Xico os caminhos da sua infância e estive nos lugares onde aconteceram as histórias que ele me conta. Na esquina da praça, ainda está o prédio da “Casa Gaúcha”, que durante 65 anos foi a loja mais importante da região.
      A casa em que ele morava com os nove irmãos, também está lá, e guarda a história dos Sommer Martins.
      Visitamos o jornal “A Notícia”, uma instituição na cidade e, com muita honra, viramos notícia, com direito à foto e à publicação de um escrito meu.
Com surpresa, vi que ainda existe aquele “footing”, tão decantado pelas minhas tias! Como há 60 anos, os jovens em São Luiz ainda caminham em volta da praça depois da missa de domingo. Mas, como estava muito frio, a maioria somente dava voltas de carro chegando a provocar um pequeno congestionamento!
      São Luiz Gonzaga é uma cidade que tem História e um povo que se orgulha dela.
      Fundada pelos jesuítas no século XVII, foi um dos povoados da “República Guarani”. É são-luizense o herói Sepé Tiaraju, que comandou os indígenas na luta por suas terras.  Lá, foi criado o primeiro partido republicano do Rio Grande do Sul pelo Senador Pinheiro Machado, que viveu na cidade grande parte da sua vida. Nos anos 20, “hospedou” por dois meses os homens da Coluna Prestes que, reza a lenda, teria saído de lá sem pagar as contas. E por ai vai...
      São Luiz tem museu municipal, associação de escritores, livraria e cinema. Valoriza e homenageia seus artistas e o maior deles, Jaime Caetano Braun, ganhou uma bela e imponente estátua na entrada da cidade.
      Resumindo, voltei encantada com São Luiz Gonzaga, onde a terra ainda é vermelha e “tem dono”, como disse uma vez Sepé Tiaraju!




Casa dos meus bisavós:


Xico e eu. Ao fundo, o prédio onde foi a "Casa Gaúcha"