25.2.22

Lembranças do Facebook


Fevereiro de 2016:
"Antes de militar no PT, a partir de 1990, fiz política estudantil na universidade e fui simpatizante do gupo da Dilma no PDT.

Me interesso por política desde que nasci porque conviver com os Sampaios era ouvir conversas sobre políticos e discussões políticas desde muito cedo. Meu avô, em 1954, foi candidato a governador do Estado pela Frente Popular e eu, com 7 anos, participei da campanha!

Nunca aceitei gurus, nem o "centralismo democrático" e nem algumas outras características que os partidos de esquerda tinham e que me lembravam a “santa madre igreja” (os amigos de esquerda entenderão sobre o que eu falo).

Infelizmente, o PT onde eu militei e que eu defendi com ardor acabou.

Não vi o partido chamar para nem uminha mobilização em apoio ao governo Dilma! Quem chama é a frente da qual o PT faz parte.

Que absurdo é este?

Agora, quando três senadores do PT não estavam presentes nesta votação fundamental, para alguns companheiros de esquerda a culpa é da Dilma e muitos estão declarando não apoiar mais o governo porque "cansaram" dos seus erros.

Deixar de apoiar a Dilma e fazer o que mesmo?

Quem sabe não seria bom aceitar que o PT mudou e mudou muito!

Quem sabe não está na hora de encarar de frente esta tristeza?

O PT deixou pelo caminho a sua ideologia e, assim como outras experiências mundiais, a “burrocracia” tomou conta dos rumos do partido e tornou-se maioria!

Todo o meu apoio ao Governo Dilma!

1. não lembro mais a que votação me referia na época, se alguém souber por favor me diga. Fiz uma busca no Google e não achei nada;

2. em 2015, também no FB, declarei que era Dilmista e não mais petista. Hoje, acredito que Lula é muito maior do que o PT.


Fevereiro de 2017

Todos nós que lutamos por um outro mundo e que acreditamos na utopia do “hombre nuevo” estamos nos sentindo como escreve Maria Lucia Dahl. Ainda acredito que um outro mundo é possível, mas, certamente, com outras pessoas...

 "Estive pensando muito na minha geração, da qual fui fã e tiete. Admirei e defendi ardorosamente toda a sua virada de mesa dentro de um contexto geral: político, social, sexual, bissexual, feminista, libertário e até na revolução da moda , das saias, dos cabelos, reflexo imediato do pensamento revolucionário.

Mas agora, depois dessa mesma geração estar no poder comecei a repensar nossas atitudes. Pra mim, 68 não tinha erro, embora fosse uma geração experimental e nem toda experiência seja fadada ao sucesso, mesmo que eu continue achando muito melhor tentar do que ficar parado, até prova em contrário.

Quando o pai da minha filha, líder estudantil e exilado político, discursava na Cinelândia, ao lado de Vladimir Palmeira, dizendo: “Nós vamos tomar o poder”, eu me preocupava, porque os achava jovens demais, sem experiência nem prática, apenas terminando a faculdade.

Então, trinta anos depois, quando finalmente tomamos o poder, pensei: “agora tudo vai dar certo. Está todo mundo mais velho, mais sábio, mais experiente e amadurecido em suas ideias. O que eu não podia imaginar era que, pelo menos a maioria não pensava mais daquele jeito.

Como posso admitir que alguém vá preso e torturado por um ideal se realmente não acredita nele acima de tudo? Ninguém é crucificado pra ficar rico, privando o povo de escolas, hospitais, aposentadoria, dignidade. Isso pra mim não bate. Ou se está de um lado ou de outro.

Será que, diferentemente do que eu achava, se tivessem tomado o poder quando jovens, teria sido diferente? Que só jovem tem ideologia? Que com a idade troca-se a ideologia pelo poder? Que a força da grana, como diz Caetano, ergue e destrói coisas belas? Que éramos apenas sonhadores, como dizia Bertolucci? Libertários na ficção, na imaginação e que a teoria, na prática era outra?

Por um momento fiquei confusa, até constatar que continuo acreditando nos mesmos valores: democráticos, políticos, sociais, bissexuais, feministas, libertários. Continuo acreditando em “liberdade sem medo”, que era o lema de Summerhill, o que havia de mais amoroso e avançado em matéria de educação, continuo acreditando no amor e na paz como condições definitivas para o progresso, continuo apoiando a verdade contra os fingimentos da década de 50, cheios de garçonnières, esconderijos, traições, mentiras.

Mas infelizmente, não acredito mais no ser humano. Não era o pensamento nem o ideal da minha geração que estavam errados, ambos estavam certíssimos, e não tenho dúvidas de que pertencia a uma juventude que queria mudar o mundo de verdade.

Não acho que tenhamos sido apenas sonhadores. Nossa teoria estava certa e o sonho só acabou, como disse Lênin e depois Lennon, porque o homem continua bárbaro e não evolui um segundo da Idade da Pedra, até agora, em matéria de consciência.

Prefere a guerra, o desamor e o sofrimento em nome do dinheiro e do conforto. Mas que conforto, se o feitiço virou contra o feiticeiro? Quem espalha miséria, sofrimento, escravidão, receberá tudo isso de volta. É a lei do retorno, da consciência, dos atos.

Para que vivêssemos em paz, bastaria amar o próximo como a nós mesmos. Por isso acho que não foi Summerhill que errou em dar liberdade sem medo às crianças, não é a opção sexual que nos faz melhores ou piores, mas o fingimento, a mentira. Tudo o que não for verdadeiro sairá do fundo do poço, felizmente sobrando a esperança, como na caixa de Pandora. Basta saber o que fazer com ela.

Por que não foi o sonho que acabou, mas o homem que escolheu o pesadelo."