20.4.21

O rei Roberto e a mantissidão

 "Os botões da blusa que você usava e meio confusa desabotoava iam pouco a pouco me deixando ver no meio de tudo um pouco de você.

Nos lençóis macios amantes se dão, travesseiros soltos, roupas pelo chão. Braços que se abraçam, bocas que murmuram palavras de amor enquanto se procuram..."

trecho da música "Os seus botões" de Roberto e Erasmo Carlos, de 1976


Durante muito tempo, quando escutava esta música, ficava imaginando como seria esta mantissidão. E via uma paisagem tranquila, campos verdes, montanhas ao fundo, um céu bem azul, sem nuvens e o que se ouvia era só o silencio, um lugar de muita paz que avistavam da janela...

Até que um belo dia, não lembro quando, li a letra e SURPRESA! A mantissidão era só "amantes se dão" e eu fiquei muito encabulada com a minha patetice, rsrs

Em 2009, o jornalista David Coimbra publicou, no jornal gaúcho Zero Hora, uma crônica com o título de "Os botões da blusa" e um amigo me passou o recorte. Que alívio, não era a única abobada que escutou errado, rsrs. Uma pena, porque a paisagem que eu via era tão bonita! 

"Os botões da blusa

Sabe aquela música do Rei: nos lençóis macios amantes se dão?

Uma amiga minha achava que "amantes se dão" era uma única palavra. Mantissidão. Imaginava que Roberto Carlos cantasse:  Nos lençóis macios, a mantissidão...

Como se nos lençóis macios o Rei e sua companheira sentissem a mantissidão da vida, das coisas do universo, do mundo e do amor. Tem lógica. Você está numa praia, a tarde cai, o dia está ameno, você olha para a linha do horizonte, no fim do mar, e sente a mantissidão o envolvendo, e é bom...

Ou depois de uma noite de orgias você acorda ao meio-dia com a boca pastosa e com uma baita duma mantissidão.

Seja como for, mantissidão é uma bela palavra e deveria existir." (trecho da crônica).

Concordo com ele, esta palavra deveria mesmo existir. E não é interessante que eu e a sua amiga tenhamos tido a mesma sensação?

E hoje, que tanto se fala no Roberto Carlos porque ele está de aniversário, fui procurar no Google a crônica porque só tinha o recorte. E tive outra surpresa: em 2009, no seu blog, meu amigo Emílio Pacheco, também escreveu sobre o tema.*

"A mantissidão

Inspirado por um tópico do Orkut, eu ia escrever uma longa crônica sobre a mantissidão. Mas pesquisei no Google e constatei que vários outros já o fizeram. Não seria uma ideia original. De qualquer forma, é bom saber que não fui o único nos anos 70 a imaginar Roberto Carlos abraçado em sua amada dizendo: 'É tão bom estar aqui com você curtindo esta paz, esta mantissidão...' E tudo por causa da letra de 'Os Seus Botões': 'Os lençóis macios / a mantissidão...'

Não é o máximo! Eu achei, rsrs

E mais esta frase no "blogmanualdoaluno": "Eu me lembro da música Roberto Carlos, em que ele falava da “mantissidão”. Eu cantava a música, mas não sabia o que significava essa palavra. Achava que devia ser algum tipo de calma, um clima de ternura, amor, sei lá."

Moral da história: mais gente sentiu o mesmo que eu.

E por fim, encontrei esta crônica ótima:

http://cuecaazulcalcinha.blogspot.com/2009/12/o-amante-cidao.html

Feliz Aniversário, Roberto Carlos!

Canta Ivete Sangalo:

https://www.youtube.com/watch?v=b1Lt-SUXi7s&ab_channel=AlfredoLeonLeyva

*https://emiliopacheco.blogspot.com/




16.4.21

Alexandre, meu amigo para sempre


maio de 1981

Alexandre foi uma pessoa muito especial. 

No final dos anos 60, estudante de medicina, militou em um grupo trotskista e  foi preso. Quando saiu da prisão perguntei se havia sido torturado e ele respondeu que não, que só havia levado choque nas pontas dos dedos... Assim era o Alexandre, com tanta gente sofrendo e sendo morta, ele não considerou o que sofreu como tortura.

Depois disto abandonou a medicina, e em 1971 foi morar em Buenos Aires com seu amor José Maria.

Em 1981 retornou a Porto Alegre e continuamos nossa amizade como se nunca tivéssemos estado  separados.

Em 1987, a AIDS era considerada "o câncer gay" e foi neste ano que Alexandre se contaminou.

Assim como hoje, que estamos vivendo a pandemia do COVID e têm gente andando por aí sem máscara e se aglomerando, naquele momento quase ninguém usava camisinha nas suas relações sexuais. E quantas vidas poderiam ter sido salvas!

Alexandre faleceu em maio de 1990, depois de muito sofrimento, principalmente emocional, e estivemos juntos até o fim. 

Hoje, organizando meu computador encontrei esta preciosidade escrita por ele para o jornalzinho do grupo "Grupo pela VIDDA - RS", em 1989:

"TENHO AIDS, um comentário sobre essa vivência.

Eis que, aos poucos, essa doença vai-se infiltrando. Insidiosa, lenta. Se espalhando pelo planeta. De repente explode: imprensa, entrevistas, pesquisas, paranoia generalizada. Quase pânico. Preconceito. Na Califórnia motoqueiros espancam gays.

Cientistas de todo o mundo buscam descobrir o remédio. Começam a morrer gays e outros aos milhares, aos milhões.

Nada detém a peste do nosso século.

Assim como foram a tuberculose, a lepra, a gripe espanhola.

AIDS surge agora, assustadora.

AIDS dói. Dor doída. Dolorosa dor. Dor única. solitária, intransferível. Não há como explicar.

Nem como transformar o outro em companheiro. Somente, talvez, outro aidético, ou alguém que tenha experimentado a proximidade, a possibilidade real do morrer.

Mas é sempre única. É minha, não de um outro.

Essa é então a exclusividade da AIDS.

E é aí que se toma uma experiência de descoberta, pode tornar-se. Depende de cada um. Optar pela vida ou lutar. Pessoas com câncer maligno inexplicavelmente se curam. Meditação, alimentação rica e natural fortalecendo a produção de anticorpos.

Transas espiritistas. Tudo vale, tudo tem um enorme sentido.

Não se entregar, não desistir. Com AZT ou sem AZT!

AIDS nos coloca, de modo absoluto frente a coisas inevitáveis da história do homem. Nos confronta com questões que têm acompanhado a humanidade desde que o homem é homem.

Aqui, agora. Hoje.

A crise de nossa cultura chega aos limites do possível. O planeta chega à borda: do abismo, da autodestruição, do suicídio de uma espécie inteira. Pela primeira vez na história de nossa espécie isso é possível, e provável.

Chega à borda, ao mesmo tempo, da solidariedade, da comunhão.

Se intui, se esboça.

Borda da Vida, beira da Morte. Em todos os sentidos, todos os terrenos da nossa experiencialidade. Ozônio, índios, destruição na Natureza, águas, matos, o Capital.

O Vazio se faz claro, enorme sombra - como assustadora vitrine a nos mostrar o Erro, a Queda – Hitler, Pequim, milhões. Radioatividade: Jane Fonda, Elizabeth Taylor militante da "GAPA" americana... Lennon e o pacifismo. Dylan e Caetano. Nossos ídolos se dão conta. Todos, quase. Raoni e Sting e o Amazonas: há uma teia de amor se desenhando nas entrelinhas.

É aí que eu vejo a AIDS. A que eu vivenciei. A Morte ali e a Vida, o Amor como luz, porta e revolução. Não se volta atrás.

A experiência é única, irredutível.

Todas as questões de todos os tempos e culturas, as grandes perguntas. Todas as religiões, todos os misticismos.

O QUE É A VIDA? pergunta que ressoa em silêncio, enorme.

O QUE É A MORTE? Abismo, escuro, dor? Acho que não. Passagem.

Medo de.

Então, a AIDS entra como possibilidade de libertação - mais além do preconceito.

Nossas armas - as dos aidéticos, são o solidário e o amoroso.

Nossa força. Nossa fé.

Amor de mãe, hembra, mater, matriz. A vida, o ventre, o filho, a continuidade.

Foi assim sempre.

Maria.

Há uma grande mãe chamada Terra. Raiz.

Útero.

AIDS é isso, perto disso. O outro.

É - também - a negação, o medo, o preconceito - mas, enorme, está também a mão. A solidariedade, o amor de filho, irmão, de amigo que se junta e empurra. Batalha.

Cada sobrevivente um herói, Ogum guerreiro. Exército.

Ao lado de tudo, junto com tudo, enorme, pairando enorme mão. CORAÇÃO E AIDS é isso: sofrimento. Solidão.

Dói ser gay, sem plumas nem paetês. Dói tudo isso. Dói ter AIDS.

Dói ser negro em Joanesburgo. Ser judeu em campo de concentração. Dói ser um adolescente chinês.

E dessas dores renascemos, renasceremos.

Como um grande abraço.

IRMÃO, enorme mão, enorme CORAÇÃO.

Alexandre Schneiders da Silva

Porto Alegre  - madrugada de 25/junho (São João) - Espécie de transe"


14.4.21

Minhas primeiras "casas"

Quando nasci, minha família morava numa casa muito grande, na rua Riachuelo, em Porto Alegre. Na frente da casa, ficava um colégio de padres salesianos que, naquele tempo, usavam batinas pretas: o Colégio Nossa Senhora das Dores.

Meu pai, um anticlerical muito irreverente, me ensinou que tanto os padres quanto os guarda-chuvas se chamavam Bu. E eu, bem pequenininha e toda feliz, cada vez que via um deles, um padre ou um guarda-chuva, apontava e dizia: buuuuuuuuuu.

Era um sucesso: “tão engraçadinha”, rsrs. Mas, será que havia alguma semelhança com a palavra urubu?

Neste tempo, eu tinha dois amigos que moravam na casa ao lado da minha: o Luiz Artur e a Maninha. Ele, um pouco mais velho do que eu, estudava piano, o que me deixava morta de inveja.

Eu também queria tocar, mas minha mãe dizia que nunca teríamos condições financeiras para comprar um piano e por isto eu não podia aprender. E me obrigou a estudar balé, que eu odiava, porque eu tinha os “pés pra dentro”! Naquele tempo, ou se colocava botas ortopédicas (pretas e horrorosas),ou se estudava balé, ou ficava por isto mesmo. 

Nós três, brincávamos muito de teatro e a "peça" de que eu mais me lembro é história do Peter Pan. Hoje, tenho certeza de que nós voávamos de verdade, na sala, entre um sofá e outro, rumo à Terra do Nunca!A Maninha sempre era a Fada Sininho, eu era a Wendy e, claro, o Peter Pan era o Luiz Artur.

Eu era fascinada por este amigo. Quando ele estudou a Idade Média nas aulas de história, descobriu que os europeus daquela época não comiam açúcar. Resolveu fazer como eles e comer só mel. Tentei fazer o mesmo na minha casa, mas levei um corridão porque mel era muito caro, rsrs.

Os tios deles, que moravam na mesma casa, eram médicos e, por isto, havia muitas amostras de remédios na casa. Lembro da nossa alegria, abrindo as cápsulas coloridas e fazendo chuva com o "recheio" dos remédios da janela do segundo piso para o quintal.

 Quando eu tinha 9 anos, tivemos que nos mudar e fomos morar em um apartamento, no terceiro andar, bem menor do que a nossa casa e em outro bairro, Cidade Baixa. 

Foi uma adaptação triste e difícil. Perdi meus amigos, mas a perda mais triste foi a do Pinóquio, meu gatinho. Ele nunca chegou lá e a explicação que me deram para o seu "desaparecimento" nunca me convenceu.

Mas, houve ganhos também! A vista que se tinha das janelas abertas para o horizonte foi um deles. Se via muito céu e muitos morros! Uma noite, da janela da sala, assisti a uma maravilhosa tempestade de raios. Estavam tão longe que eu não conseguia ouvir nenhum barulho. Foi um espetáculo inesquecível

Do nosso apartamento, eu enxergava o quintal cheio de árvores onde sempre havia duas meninas brincando. Um belo dia, tomei coragem e puxei conversa: eu lá em cima, sentada no tanque, e elas lá embaixo. Eram a Elisabeth e a Paula e, logo, logo, estávamos brincando juntas naquele quintal. Não lembro delas na nossa casa, mas lembro bem das minhas idas à casa delas.

Gostava muito de estar lá! A mãe, Dona Cecília, fazia vestidos de noiva. O pai, Seu Paulo, era um artista gráfico e, depois descobrimos que era amigo do meu pai. O avô, era um velhinho bem velhinho, dono de uma tipografia, mas em outro lugar. O tio, pintor, morava em São Paulo e era só ouvirmos o barulho do motor de um avião e já estávamos abanando para o "Dindinho" que, pelo jeito, estava dentro de todos eles. A tia, Linda Gay, era uma famosa atriz de radionovelas, e isto me deixava muito exibida por conhecê-la pessoalmente. O cachorro era um cachorrão chamado Rex que, se bem me lembro, obedecia a poucas pessoas, entre elas, eu, rsrs

Da esquerda para a direita: Elisabeth, uma vizinha de quem não lembro o nome, Paula e eu.

Não lembro do que brincávamos, mas lembro muito bem da nossa alegria! 

Foi neste bairro que, adolescente, tive a minha primeira “turma”, mas aí é outra estória.

p.s 1- não perdi de vista a Maninha e o Luiz Artur porque ambos se dedicaram ao teatro e acompanho suas carreiras. Graças ao Facebook, reencontrei a Elisabeth e a Paula;

p.s 2- como devem ter notado, apartamento pra mim também é casa, rsrs


O edifício ainda está lá, mas um pouco maltratado. 
Morávamos no último andar, à direita.

11.4.21

Porque nunca terei conta no Banco Itaú e nem cartão Hipercard!

 

Crédito: Charge SEEB/SP

Hoje o Facebook me trouxe nas "Lembranças" uma postagem que fiz no dia 11 de abril de 2016, muito semelhante à "Saga dos Comprovantes" que publiquei aqui dias atrás. 

http://maria-lucia.blogspot.com/2021/04/a-saga-dos-comprovantes.html

Lá vai:

"Minha mãe tem 86 anos e, infelizmente, está em uma geriatria com Alzheimer. 

Ela tinha um cartão do Supermercado BIG, em Porto Alegre, que na verdade é um cartão do Itaú.

Há muito não era usado e eu resolvi cancelar.

Como a mensalidade, pequena é verdade, era cobrada mensalmente resolvi cancelar.

Dia 31 de março iniciou a minha saga.*

Liguei para o 0800 do Itaúcard pedindo informações sobre como deveria proceder, já que sou procuradora da minha mãe.

A moça 1 me explicou que só a titular poderia cancelar, mas depois de 25 min de explicações ela me pareceu ter entendido e disse que, em três dia uteis, alguém ligaria para me explicar o que eu deveria fazer.

No sábado, 2 de abril, recebi um SMS com o seguinte texto: "Solicitação encerrada conforme comunicado ao cliente."

Segunda, dia 4, liguei novamente para o 0800 e a moça 2 me disse que a solicitação foi cancelada porque eu não havia enviado a procuração. Esclareci que estava esperando um telefonema com as orientações e que ninguém tinha me ligado, Ela, gentilmente, reconheceu a falha e me orientou.

No mesmo dia 4, conforme a orientação recebida, enviei por e-mail duas imagens, cada uma com uma página da procuração e fiquei tranquila.

Dia 6 recebo um SMS com o seguinte texto: " Solicitação encerrada conforme comunicado ao cliente."

Me dei dois dias de folga e no dia 8 liguei novamente. A moça 3 me informou que eu havia enviado em anexo dois arquivos com a mesma imagem, isto é, as duas imagens eram da segunda página da   procuração e por isto foi encerrado o assunto!

Como eu poderia mesmo ter me enganado, me desculpei, desliguei e fui ver a mensagem. Bendita informática, lá estava a mensagem com as duas folhas da procuração, portanto, a minha mensagem estava correta.

Ligo de novo e a moça 4 diz que no sistema deles constava que a procuração tinha ido incompleta. 

Então, matei a charada: a pessoa que recebeu a mensagem achou que as duas imagens eram iguais porque o papel onde o cartório imprime as procurações tem uma marca, igual nas duas folhas. Portanto, quem recebeu não leu o texto!

A moça 4 pediu que eu enviasse outra vez, mas pensei que se eu simplesmente enviasse outra vez, havia a possibilidade de acontecer de novo a mesma coisa.

Pedi para falar com a chefe e veio uma supervisora. Expliquei tudo de novo, inclusive a questão das folhas do cartório, blá, blá.blá...

Como vi que não iria convencer a supervisora, desisti do blá, blá, blá e, no mesmo dia 8, enviei uma mensagem com o print da tela com a minha mensagem anterior e os dois anexos corretos abertos e legíveis.

Hoje,três dias depois,  às 9 da manhã recebo um telefonema dizendo estar tudo resolvido, OBA!

Às, 14 hs e 56 min recebo um SMS: "insatisfação solucionada". OBA!

Mas, que OBA que nada, rsrsrs.

Ás 16hs e 01 min recebo um telefonema do Itaú. A moça 5 me diz que o cartão ESTAVA CANCELADO, mas que ela necessitava que eu enviasse a CERTIDÃO DE ÓBITO da minha mãe!

Soltei-lhe os cachorros e desliguei. Pobre da moça 5..."

*em 2016 usei o mesmo termo. É uma saga mesmo...


7.4.21

A saga dos comprovantes!

 

foto: Andrea Piacquadio/ Pexels



Minha mãe tem 91 anos e minha tia Theresa tem 89 (fará 90 daqui a um mês).

As duas declaram imposto de renda, portando as duas precisam do tal informe de rendimentos do ano que passou.

Minha tia, aposentada como professora do Estado do Rio Grande do Sul, retirava pessoalmente no “Tudo fácil” em Porto Alegre e eu baixava o da minha mãe, aposentada do TRE/RS, do site do tribunal.

Como o “Tudo Fácil” está fechado, a alternativa era pelo portal do servidor na Internet. Claro que seria uma tarefa muito complicada para uma pessoa da idade dela e resolvi assumir a tarefa.


Capítulo I

Comprovante da Dona Norma, minha mãe

Como faço há alguns anos entrei no site do TRE/RS para baixar o comprovante.

Então o site pediu: login, senha e um token, que eu não tinha a menor ideia do que era.

Como eu tinha o tutorial com as instruções, fiz o que estava lá: instalei o aplicativo Authenticator no celular, o QR foi lido na tela do computador e apareceram 6 quadradinhos para eu preencher com o número que aparecia no celular para depois dar um enter.

Acontece que os números iam mudando depois de alguns segundos e, mesmo eu digitando o que ainda estava na tela do celular, o site dizia que os dados eram inválidos.

Tentei falar com o tribunal, mas uma gravação dizia que não havia expediente por causa da pandemia e que se houvesse algum problema eu ligasse para o 148, mas só servia para ligar do Rio Grande do Sul.  Snif, moro em Santa Catarina.

Lembrei então, que no tal tutorial havia um número para chamar caso houvesse problema de login.

Eram 9:07. Liguei e depois de uns cinco minutos fui atendida. A orientação que recebi foi de mandar uma mensagem para o “helpdesk@...” (não poderia ser “ajudaqualquercoisa@...”?).

Mandei a mensagem às 10:03, a resposta automática veio em 5 min e em seguida veio uma outra pedindo o número do meu telefone. Respondi na mesma hora, toda animada. Mas, depois disto, não recebi nada.

Mandei mais duas mensagens, recebi duas respostas automáticas e ao meio-dia (duas horas depois), liguei de novo para o número da ajuda.

15 min depois, ninguém havia atendido e eu desisti!

Nestas alturas, já “à beira de um ataque de nervos”, resolvi pedir ajuda para os universitários, neste caso o meu filho Miguel e SUCESSO ABSOLUTO!

Ele me passou o token, consegui o comprovante, o documento já foi para a contadora e a declaração já foi para a Receita.

Mas, até este momento, 31 horas depois do pedido de ajuda, o helpdesk não me deu retorno.


Capítulo 2 

Comprovante da Tia Theresa

Dia 1

Acessei o Portal do Servidor/RS com o número da matrícula no Estado para baixar o comprovante de rendimentos, mas, para isto, era preciso fazer o cadastro dela.

Coloquei os dados e na hora de gerar a senha: surprise! O link necessário para isto seria enviado por e-mail, porém, como ela nunca havia cadastrado um, a solução do site foi:



Isto mesmo, dirija-se à sua área de RH para informações.

Só relembrando, estamos em plena pandemia, a minha tia tem 89 anos e está em isolamento! Tenho uma procuração, mas moro em Florianópolis e, mesmo que morasse em Porto Alegre, também estou em isolamento.

Dia 2:

Às 9 horas da manhã reinicio o processo e vou atrás dos telefones da Secretaria de Educação no site. Lá, há três números: o geral responde “não é possível conectar” e os outros dois, da comunicação, ninguém atende.

Recorro à lista dos ramais, tento uns 10 ramais do RH, mas nenhum atende.

Quem sabe estou ligando fora do horário de trabalho?

Procuro no site a informação sobre atendimento e não encontro nada.

Vou então ao Facebook da SEC e lá descubro que o horário é das 9 hs até às 15 hs.

Às 9:38, envio, pelo FB, uma mensagem pedindo socorro e recebo esta resposta automática: “Olá! Como podemos lhe ajudar? Em breve, lhe encaminharemos o retorno de sua demanda. Agradecemos o seu contato!” e duas horas depois e nada de resposta.

Resolvo apelar para a Ouvidoria, mas não há uma ouvidoria exclusiva da secretaria e teria que criar uma conta “gov.br”. Desisto da ouvidoria.

Vejo que no site da secretaria tem um item “nossa equipe” e lá descubro três números do RH. Os primeiros dois não atendem, mas no terceiro, às 11:50 escuto a voz de um ser humano! Um ser humano muito atencioso, que se chama Elenir.

Ela me passa, então, o e-mail da colega que poderá me ajudar. Quase choro porque estou ressabiada com e-mails, mas vamos em frente.

Às 12:18 envio a mensagem com a procuração da minha tia para mim, anexada.

ÀS 15 hs o expediente acabou e nada de resposta.

Mas, a funcionário que recebeu o e-mail, Marlise, também era um ser humano muito atencioso e às 17 hs me manda a resposta, dizendo quais são os documentos que devo enviar!

Dia 3

Documentos impressos, preenchidos e escaneados.

Mas, preenchi a solicitação com o meu e-mail, que já estava cadastrado na minha matrícula e sabe-se lá por que não poderia ser o mesmo para nós duas. Por sorte tenho dois.

Quanto ao comprovante, já está com a contadora.

Só que a minha tia não tem a cópia da declaração do ano passado, então inicia-se agora “A saga da cópia do imposto de renda da tia Theresa”. 

Espero que seja menos sofrida, rsrsrs


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