Em 1981, quando voltei para Porto
Alegre depois de ter passado 10 anos fora, "cunhei" a seguinte frase: "Porto Alegre, quem não se conhece é
parente, o desconhecido não existe".
De lá pra cá, só tenho confirmado
isso.
Pois, um primo da minha avó
materna era casado com a Jussara, que é irmã da Ailema, que era mulher do
Glênio. E além disto, minha tia Theresa foi colega dele no Belas Artes e meu
pai e meu tio foram amigos dele na juventude, em Porto Alegre.
Glenio e Ailema moravam em
Brasília, mas nós nos encontramos algumas vezes.
Lá por 1973/74, ganhei da Jussara
uma xilogravura fantástica do Glênio. Estava na chácara em que ela morava, em Gravataí, tinha sido feita
vinte anos antes, mas como ele não gostou da cópia, ficou por lá.
Na época, estava na moda fazer
"póster" (no sul, dizíamos bem assim) e então, a xilogravura foi
grudada num compensado, e ficou com a aparência de um cartaz.
E que gafe a minha que não tinha
a menor noção de qual era a forma correta de emoldurar uma gravura...
Em 1976, quando eu morava em Brasília,
nasceu meu filho Ricardo e o Glênio e a Ailema foram nos visitar. Na parede da
sala, em lugar de destaque, estava o meu lindo "póster"!
Conversávamos
sobre a obra, que não estava assinada, quando a Ailema sugeriu, na frente do Glênio,
que eu pedisse para ele assinar.
Fiquei
sem graça. Ele havia refugado aquela cópia e, se fosse assinada, seria
reconhecida como sua passando a ter um grande valor no mercado de arte.
Não
tive coragem de pedir e ele, um pouco tímido, não tomou a iniciativa.
E até
hoje, a xilogravura está grudada em um compensado e sem a assinatura dele.
Mas, a
emoção e a beleza do trabalho estão à nossa disposição!
Em
1986, fui visitar a Jussara e o Glênio estava na casa dela.
Ele
tinha trazido uma série de serigrafias que seriam expostas em uma galeria de
Porto Alegre e, consequentemente, vendidas.
Fique tão
encantada com uma delas que resolvi comprar. Na época, meu salário era muito
baixo e, com dois filhos e uma pensão pequena do ex-marido, o dinheiro acabava antes do mês.
Minha
mãe ficou muito indignada, porque achou que eu estava botando o meu - já pouco
- dinheiro fora. Felizmente, ela não conseguiu me demover e eu consegui pagar e a
partir daquele dia, dei à serigrafia o
apelido de "cocaína", rsrsrsrsrs.
Nunca
me arrependi da compra e a ela reina absoluta em nossa sala, enchendo de beleza
os nossos olhos e o nosso coração!
Glênio Bianchetti faleceu dia 18 de fevereiro, em Brasília.
A ele, minha homenagem.