24.8.24

24 de agosto


Para mim esta é uma data de muitas recordações.

Em 1954, eu vivia em Porto Alegre e tinha 7 anos quando o presidente Getúlio Vargas se suicidou.

Getúlio, chamado de “Pai dos pobres”, era amado pelo povo trabalhador em função de sua defesa dos direitos trabalhistas e, naquele dia, as manifestações de revolta foram violentas. Para eles, Getúlio havia sido levado ao suicídio pelos seus opositores.

Os “Diários Associados,” uma poderosa empresa nacional de comunicação, desenvolvia uma ferrenha campanha antigetulista em todos os seus veículos (pois é, só mudam as moscas...). Em Porto Alegre, era proprietária de um importante jornal, o “Diário de Notícias”, e da principal emissora de rádio do estado: a “Rádio Farroupilha”.

Morávamos na rua Riachuelo, a algumas quadras da rádio que ficava na rua Duque de Caxias. Quando meu pai ficou sabendo (certamente, pelo rádio) que os manifestantes estavam incendiando o prédio, me pegou pela mão e fomos para lá! Lembro de estar encarapitada nas costas dele para poder ver melhor, rsrs

prédio da Rádio Farroupilha

Depois, fomos até a Rua da Praia e foi a primeira vez em que vi operários de verdade. A expressão do rosto deles me impressionou muito e ainda a tenho na memória. 

Meu avô Sampaio era candidato a governador do Estado pela Frente Popular, composta por partidos de esquerda. Ao lado da nossa casa, havia um comitê da campanha dele e tenho a lembrança da preocupação da minha família, com medo de que fosse depredado. Temiam também que meu avô, que estava em campanha no interior, fosse agredido. Mas, nada disto aconteceu.

 Em 1976, eu vivia em Brasília quando Juscelino Kubitschek morreu (acidente ou assassinado?) no dia 22 de agosto. Estava no final da gravidez do meu primeiro filho. Ernesto Geisel era o “presidente” e estávamos em plena ditadura.  

Houve uma cerimônia no Rio de Janeiro e depois, no dia 24, o corpo foi levado para Brasília para ser enterrado lá.

Meu marido e eu nos postamos num ponto do trajeto em que o cortejo faria do aeroporto até a catedral onde seria velado. Mas não houve cortejo, o caixão foi colocado dentro de uma Kombi que passou em altíssima velocidade, seguida por centenas de carros. Foi uma decepção!

Minha avó Dulce estava em Brasília, para acompanhar o meu parto, hospedada na casa de nossos queridos amigos Majzinha e Chico Meirelles. Eles moravam na Asa Sul, bem pertinho da avenida por onde, no final da tarde, passaria, o caixão com o corpo de Juscelino.

Apesar do tamanho da minha barriga, eu queria participar e minha avó convenceu os demais, que ficaram preocupados, de que eu poderia ir. Pegamos os banquinhos da cozinha e lá fomos nós.

Os milicos programaram que o transporte do caixão até o cemitério seria feito em um carro de bombeiros. Mas, a multidão emocionada de milhares de pessoas não permitiu. Então, o caixão foi levado por eles que cantavam o hino nacional, o “Peixe Vivo” (a música preferida de Juscelino) e gritavam vivas à democracia.

Não lembro se chorei, mas hoje esta vivência me emociona.

No dia seguinte, só alegria, nasceu meu filho Ricardo!