28.1.25

Residente - "This is Not America"


Em 2022, o portoriquenho René Joglar Pérez, conhecido como Residente, compôs o rap "This is Not America" e lançou um clipe que provocou grande impacto, por sua letra e por suas imagens. Os intérpretes são: o próprio Residente e o duo "Ibeyi", com Naomi Diaz, na percussão e Lisa-Kaindé nos vocais). Vi na Internet que, naquele ano, "viralizou", mas, eu não conhecia e assisti ontem, pela primeira vez.

Por coincidência, mInha amiga Beatriz Fagundes rodou hoje no seu programa na Rádio Manawa. Euzinha, muito exibidamente, me ofereci para traduzir. 
A primeira coisa que fiz foi procurar traduções prontas, mas as que  encontrei não me agradaram. 
Comecei a traduzir e quase desisti! Apesar de dominar bem o espanhol, havia muitas palavras e versos que eu não entendia. Precisei pesquisar e fiquei surpresa, encontrei várias análises e até um trabalho acadêmico sobre o clipe.

Então, aí vai a minha "tradução livre", que acabei de descobrir, tem regras definidas pela ABNT!

"Estamos aqui, oi, estamos aqui, me olhe, estamos aqui!
Há muito tempo, quando vocês chegaram, as pegadas dos nossos sapatos já estavam lá. 
Vocês roubaram até a comida do gato e ainda estão lambendo o prato.
 Hoje, muito puto com esses ingratos, bato forte nos tambores até que me acusem de maus tratos.

Se você não entende os fatos, então, vou te mostrar na cumbia, na bossa nova, no tango ou num vallenato colombiano
 A lo calabó e Bambú, bem Frontú, sangue quente como Timbuktu,* estamos incluídos no cardápio. 

*são versos de um famoso poema porto-riquenho, Calabó y Bambú, de Luis Palés Matos, criador do  gênero de poesia afro-antilhano. Seus versos são chamados de "poemas negros".

2pac é chamado de 2pac por Túpac Amaru do Peru*²

* "2Pac" foi um rapper norte-americano, com o nome inspirado em Tupac Amaru, último imperador inca do Perú.

América não é apenas os EUA, mano, é desde a Terra do Fogo até o Canadá.
Você tem que ser muito estúpido e cabeça oca para pensar assim. É como dizer que a África é apenas Marrocos
 Estes canalhas esqueceram que o calendário que usam foi inventado pelos Maias.
Com Valdivia pré-colombiana,* desde muito tempo, este continente não para.

*A cultura Valdívia é uma das mais antigas culturas registradas na América

Mas, nem com toda a marinha eles podem tirar a peste camponesa* da vitrine.

* "a peste camponesa" : os movimentos pela reforma agrária 

Isso vai para o capataz da empresa: o machete*não serve só pra cortar cana, serve também para cortar cabeças!

* machete é um facão usado pelos camponeses e é uma referencia aos "Macheteros” ou Ejército Popular Boricua, organização militante socialista que luta pela independência de Porto Rico

Estamos aqui, sempre estamos, não fomos embora e não vamos embora!
Estamos aqui para que você se lembre: se você quiser, meu machete te morde. Te morde! Te morde!
Os paramilitares, a guerrilha, os filhos dos conflitos, as gangues, as listas negras, os falsos positivos*, os jornalistas assassinados, os desaparecidos...

*os "falsos positivos" da Colômbia, foram as vítimas inocentes (civis pobres ou deficientes mentais) executadas pelos militares e apresentadas como se fossem guerrilheiros. Era uma forma de aumentar o número de mortos no combate ao narcotráfico, com o objetivo de conseguirem promoções e benefícios. (quase 7.000 assassinados em 7 anos)

Os narco governos roubaram tudo.
Os que se manifestam e os que se esqueceram. as perseguições, os golpes de estado, o país quebrado, os exilados, a moeda desvalorizada, o tráfico de drogas, os cartéis, as invasões, os imigrantes sem documentos, cinco presidentes em onze dias*, a polícia disparando à queima roupa.

* os cinco presidentes foram depostos em 2001, pela mobilização popular conhecida com "argentinazo".

Mais de cem anos de tortura, a “Nova Trova” cantando em plena ditadura. 
Nós somos o sangue que sopra a pressão atmosférica. 
Gambino, meu irmão, isto sim é América*.

* Aqui, Residente responde ao rapper norteamericano Childish Gambino que, em 2018, compôs “This is America” em que criticava os problemas raciais e de armas nos EUA que ele chamou América.

Estamos aqui, sempre estamos, não fomos embora e não vamos embora!
Estamos aqui para que você se lembre: se você quiser, meu machete te morde. Te morde! Te morde!"



As análises da imagens nos fazem entender melhor o clipe:


aqui o trabalho acadêmico:


Em outubro de 2024, Residente visitou Pepe Mujica e recebeu dele este conselho:  "Somos de gerações muito distantes, mas é bom que apareça gente com a cabeça livre neste mundo. Você semeou muito com a música por aí. Não se cale, siga." 
Assim esperamos!


p.s. pra quem quiser escutar a Beatriz Fagundes todas as manhãs, de segunda à sábado, na Rádio Manawa:

https://manawa.com.br/novo/

No programa tem de tudo: conselhos para ouvintes com problemas, discussão de temas abobrinhas e de temas sérios, música, muuuuuuuuita política e a participação dos ouvintes, para o bem e para o mal, rsrs 

Recomendo!


19.1.25

Elis Vive!


19 de janeiro 1982, Porto Alegre.no carro e lembro de ter tido uma sensação muito estranha, a de que a cidade havia parado. Lembro bem, mas não sei explicar.

Só no final do dia soube da morte da Elis. Foi uma enorme tristeza e difícil de acreditar..

Fiquei sabendo que estava sendo organizada uma vigília no Auditório Araújo Viana, onde vários músicos iriam se apresentar. Não sei de quem foi a ideia, mas foi uma grande ideia porque assim tivemos um lugar para chorarmos juntos.

A noite estava fria, apesar de ser janeiro e fui com a  minha amiga Carmen Peña Sommer.

Meses antes, eu havia assistido "Trem Azul", seu último show. E, quando terminou, eu e um grupo, não muito grande, queríamos falar com Elis. Ela mandou um recado: nos receberia no hotel no dia seguinte. Mas, eu não fui......

Do livro "Elis Regina", de Zeca Kiechaloski:

“Em setembro desse mesmo ano, Elis faria sua última apresentação (...) em Porto Alegre. (...) No Gigantinho, Elis se reencontra definitivamente com a sua terra. O público delira e Elis chora de emoção já que morria de medo a cada apresentação em Porto Alegre. Faz brincadeiras com a plateia, canta repetidas vezes Maria, Maria, existe um perfeito entrosamento entre público e artista.” Descrição perfeita!

Toneco da Costa e Giba Giba, compuseram uma canção em homenagem à Elis. Quis postar a linda interpretação da Gloria Oliveira, mas o vídeo desapareceu do Youtube. Posto então, uma gravação que fizemos, Toneco da Costa e eu, ao vivo de improviso e sem ensaio. 


12.1.25

Histórias do Zeca

Zeca era o apelido familiar do meu pai, o Sampaio (como ele assinava os seus cartuns). Há oito anos, no dia 12 de janeiro ele nos deixava, com 89 bem vividos anos.

Em julho de 2016, foi descoberto um inoperável câncer no seu pulmão, apesar dele ter parado de fumar em 1979. Em nenhum momento sofreu alguma dor física e partiu tranquilo como uma vela que se apaga.

Ele foi um dos primeiros cartunistas profissionais do Rio Grande do Sul (se não o primeiro), publicando na prestigiada Revista do Globo, nos anos 1940 e 1950. Depois seguiu publicando seu trabalho em vários jornais e inclusive na TV.

Nos anos 1980, resolveu abandonar o jornalismo para se dedicar somente à sua carreira de servidor público no TRE/RS, mas, nunca parou de desenhar.

Hoje, no Facebook, vi uma foto que me lembrou uma história que meu pai contava.

                

Foto:"Homem segurando uma árvore durante o furacão Carol", 1954 (foto atribuída a Stanley Hall)

Um dia, toda a família estava reunida na casa dos meus avós, mas meu pai ainda não tinha chegado. Chovia a cântaros em Porto Alegre, com uma ventania muito forte.

Quando ele chegou, alguém perguntou como estava na rua, ao que ele respondeu: "O vento está tão forte que em cada árvore há um guarda segurando pra ela não cair". 

Pra que foi dizer isto? Minha mãe acreditou e foi correndo para espiar na janela e todos riram. Que maldade... 

Lembrei de outras histórias que vou contar pra vocês:

Essa não teve testemunhas e a minha mãe ficava braba quando ele contava, mas ria muito e dizia era mentira. Sabe-se lá, rsrs

Teria acontecido na praia de Arroio do Sal, litoral do Rio Grande do Sul. Minha mãe não sabia nadar e tinha muito medo do mar. Era uma pessoa comumente chamada de "um prego dentro d´água".

Meu pai estava na areia quando a minha mãe, do mar, começou a gritar: - "Zeca, socorro, estou me afogando!" e, calmamente, meu pai teria respondido:- "Fique de pé!". E, reza  a lenda que ela ficou em pé e a água estava na altura dos joelhos, rs

Como o mar no litoral gaúcho tem buracos, então pode até ter sido verdade, mas nunca saberemos...

Seu Sampaio e Dona Norma

Não sei se ainda existe um jogo de dados chamado General que meu pai costumava jogar com os amigos no bar do Juvenal, na rua André da Rocha em Porto Alegre. Perto dali havia um quartel do exército.

Num belo dia, na época da ditadura, um oficial chegou lá, não gostou da jogatina com o nome de General e cobrou uma atitude do dono do bar para acabar com aquilo.

Meu pai se meteu, o milico não gostou e o chamou "pra briga". Como ele não era de briga respondeu: "Não bato em homem fardado". Então, rapidamente, o homem tirou a parte de cima da farda, se preparou para brigar e escutou: "Não bato em homem pelado".

Ao ouvirem isto os amigos que estavam no bar caíram na risada. O valentão não aguentou o deboche e teve que ir embora.

Meu pai tinha horror dos milicos! Dá pra perceber?

"E acabou-se o que era doce, quem comeu se regalou-se"


11.1.25

Um Natal inesquecível

Em 1986, meus filhos estavam com o pai  e eu fui com a minha avó e a minha tia passar o Natal em São PauloA festança seria na casa de uma das minhas primas com toda a parentalha "paulistana" presente. 

Algumas das crianças ainda acreditavam no Papai Noel e era uma tradição deles a presença do "bom velhinho" ao vivo e a cores. Mas, algumas estavam naquela fase do acredito/não acredito e por isto o Papai Noel não poderia ser o meu tio, como rezava a tradição. Certamente, seria reconhecido pelas mais velhas.

Chegamos em São Paulo poucos dias antes da festa de Natal e estávamos hospedadas na casa dos meus tios. As crianças ainda não tinham me visto e, além disto, nos víamos poucas vezes durante o ano, portanto,  difícilmente me reconheceriam. Sendo assim, eu fui a escolhida para ser o Papai Noel e achei bem bom! Ainda não tinha a roupa que eu usaria, rsrs Meus tios e sua família, anos antes, haviam vivido nos Estados Unidos e a roupa tinha sido trazida de lá. 

Cheguei na festa escondida e fui direto me transformar no Papai Noel.

Surpresa!!!!! A roupa era da mais quente e puríssima lã! Um pequeno detalhe só pra lembrar: no hemisfério norte o Natal é no inverno e no sul é no verão. 

Papai Noel tinha que ser barrigudo

e com barba branca
Minha tia me colocou a barba


Pronta, fiquei esperando com o saco de brinquedos nas costas, o momento do Papai Noel entrar. 


E foi uma delícia!


Porém...

Lá pelas tantas, começou a me dar um calorão e a única coisa que eu queria era tirar aquela roupa super quente de cima de mim!

Então, o Papai Noel, que não fazia Ho! Ho! Ho! (naquela época ele falava com as crianças), começou a se despedir, preparando a retirada. 

E as crianças pedindo para o Papai Noel ficar. 

Mas, comecei a me sentir mal por causa do calor e a saída teria que ser muito rápida porque achei que iria desmaiar. Já imaginaram o Papai Noel desmaiado?

Me despedi e quando estou, de costas, quase na porta da rua, sabe-se lá porque uma das tias grita: -Maria Lucia! E não deu outra, o Papai Noel se virou... Então, as crianças mais velhas começaram a gritar: - é a Maria Lucia! É a Maria Lucia!

Não lembro do que aconteceu depois e nem se ficaram convencidas de que era eu. Se foi assim, o meu quase-desmaio foi em vão.

E depois que o Papai Noel foi embora e eu curti muito a festa que estava muito boa!

Na foto, a priminha que hoje já é mãe, atrás euzinha, ao lado a tia "bocuda", 
depois minha prima dona da festa e a minha avó.





6.1.25

Viva o Cinema Brasileiro!


E viva Marcelo Rubens Paiva, Walter Salles, Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Selton Mello, Murilo Hauser e Heitor Lorega (roteiristas) e toda a equipe!

25.11.24

A calça amarela!

 

Era verão de 2001 e uma tarde “daquelas” em Porto Alegre, um calorão que só quem mora lá sabe o horror que é.

Eu trabalhava na Comunicação da prefeitura. Um belo dia, me chamaram na portaria (em geral, eu era chamada nos "momentos complexos") e encontro um senhorzinho esbravejando, furioso. Demorei a entender o que estava acontecendo, até que ele virou de costas e me mostrou a parte detrás das calças: toda manchada de tinta amarela! 

O que aconteceu? Ele quis descansar à sombra e se sentou num banco na Praça Daltro Filho (para quem é da cidade, aquela na frente do Cinema Capitólio). Só que o banco estava recém pintado de amarelíssimo ouro... Como “desgraça pouca é bobagem” ele caminhou oito quadras sob o sol inclemente para chegar até a prefeitura. Imaginem, então, como chegou lá.  

A responsabilidade pela pintura era do Departamento de Limpeza Urbana, órgão da prefeitura, portanto, ele estava no lugar certo. Imaginem a cena: o senhorzinho cansado, suado, furioso e dizendo com muito orgulho que a calça era do Renner.

Depois de conseguir acalmá-lo, entendi que caberia a nós a solução. Sabe-se lá se não era a única calça social dele. Assim, pedi que voltasse trazendo a calça, ainda sem saber como seria resolvido. Convenhamos, a situação era engraçada, não pra ele, é claro, rsrs

Fui conversar com o chefe, já que, ao fim e ao cabo, era ele quem teria que resolver.  Pediu que eu fosse ao Renner para descobrir o valor da calça. Vi e não era nada barata!

O senhorzinho voltou com a calça, mas não havia como resolver o problema administrativamente. O chefe estava brabo porque ele não comprava calças tão caras, rsrs A solução que encontrou foi levar a calça na reunião do secretariado, expor o acontecido e fazer uma “vaquinha”. Deu certo! 

Conclusão: Fui à loja com a vítima, comprei a calça e ele ficou feliz!

Como a calça ficou conosco, quando voltei, vesti por cima do meu jeans e desfilei com ela pela Comunicação, rsrs

E por que escrevo isto hoje? Porque encontrei no Facebook a ilustração perfeita para esta história e me lembrei dela.

Miroslav Barták 


20.11.24

Viva o Dia da Consciência Negra!

 Na minha infância, a bisavó Glória morava conosco. Morreu quando eu tinha 10 anos.

Negra, casou-se com o filho de um alemão e nasceram vários filhos mulatos com sobrenome alemão.

Sua filha, minha avó Elvira, casou-se com o filho de uma espanhola e de um italiano. Me dizia que, se morássemos nos EUA, teríamos que entrar nos ônibus pela porta dos fundos! Nunca entendi muito bem...

Suas amigas mais próximas eram todas negras e mulatas.

Minha mãe, sua filha, casou-se com o filho de um autêntico nobre português e de uma missioneira de São Luiz Gonzaga. Os amigos dos meus avós paternos eram todos brancos.

Mas, eu nunca notei grande diferença entre todos estes personagens da minha infância.

minha bisavó com a minha mãe


Meus filhos tiveram uma babá negra que adoravam.

Uma vez, o nosso cachorro "comeu" quase todos os seus bonequinhos do Play Mobil e só sobraram os bonecos negros.

Eles reclamaram muito, dizendo que "só tinham ficado com bonequinhos negros".

Quando perguntei o porquê desta bobagem, já que convivíamos com uma negra e gostávamos muito dela, a reação foi de espanto.

Até hoje lembro a expressão deles, que nunca tinham se dado conta da diferença na cor da pele...

Eu também, só quando já era adolescente, olhando essa foto da minha bisavó, me dei conta de que ela era negra e bem negra!

Heloisa e os meus meninos

P.S. este texto foi escrito em 2011. Hoje o uso da palavra "mulato" é contestada por parte do Movimento Negro. 





21.10.24

Caneca quebrada!

 Pois é, tudo começou com uma caneca quebrada!

Enviei este vídeo para minha amiga Susana Hausen, arquiteta como eu e minha colega na Prefeitura de Porto Alegre. Usávamos um carimbo com os nossos nomes quando assinávamos os pareceres nos processos. E qual era o sonho dela?  Ter um carimbo escrito "foda-se", rsrs. 

O resto eu conto no vídeo que mandei para a Suzana:

Então, recebi a seguinte resposta:

"Temos que fazer um curso pra formar mágicos. É completamente impossível, ter-se um bom dia neste planeta, caso sejamos pessoas conscientes. É impossível acreditar, que conseguiremos, enquanto humanidade, a reversão de tanto dano causado. Todo mundo acha que haverá solução. A solução já passou da hora! A maldade deste bicho homem é absurda! É como dizia aquele personagem do Jô Soares: "Tira o tubo!"

Estamos quase nos oitenta anos e não temos o direito de sonhar um mundo melhor! Neste quadro terrível estamos todos fodidos e alquebrados. Assim, nada mais digno que uma caneca quebrada. Ela poderá servir para nosso conforto espiritual. Jesus pendurado na cruz é até hoje um símbolo de esperança. Quem sabe uma caneca quebrada, colada e com muitos "foda-se" seja o símbolo da resistência, da esperança e da irreverência. 

Quem sabe tá na hora de se criar a "Igreja do Fôda-se universal". E, adivinha o que estaria no altar? Ela, a caneca fodida!

p.s gostarei muito do presente, pode ter certeza! "

E a minha resposta: "É difícil aceitar a ideia de que os nossos sonhos ficaram no caminho e que esse "mundo melhor" junto com o "homem novo" do Che que acreditamos possível,  deu em nada. Deu em nada? Não, é bem pior, deu neste momento presente que estamos vivendo de ganância, de desrespeito a tudo,  da ausencia dos valores que nos formaram... Portanto, sou parceira na criação na criação da Igreja do Fôda- se Universal!"


24.8.24

24 de agosto


Para mim esta é uma data de muitas recordações.

Em 1954, eu vivia em Porto Alegre e tinha 7 anos quando o presidente Getúlio Vargas se suicidou.

Getúlio, chamado de “Pai dos pobres”, era amado pelo povo trabalhador em função de sua defesa dos direitos trabalhistas e, naquele dia, as manifestações de revolta foram violentas. Para eles, Getúlio havia sido levado ao suicídio pelos seus opositores.

Os “Diários Associados,” uma poderosa empresa nacional de comunicação, desenvolvia uma ferrenha campanha antigetulista em todos os seus veículos (pois é, só mudam as moscas...). Em Porto Alegre, era proprietária de um importante jornal, o “Diário de Notícias”, e da principal emissora de rádio do estado: a “Rádio Farroupilha”.

Morávamos na rua Riachuelo, a algumas quadras da rádio que ficava na rua Duque de Caxias. Quando meu pai ficou sabendo (certamente, pelo rádio) que os manifestantes estavam incendiando o prédio, me pegou pela mão e fomos para lá! Lembro de estar encarapitada nas costas dele para poder ver melhor, rsrs

prédio da Rádio Farroupilha

Depois, fomos até a Rua da Praia e foi a primeira vez em que vi operários de verdade. A expressão do rosto deles me impressionou muito e ainda a tenho na memória. 

Meu avô Sampaio era candidato a governador do Estado pela Frente Popular, composta por partidos de esquerda. Ao lado da nossa casa, havia um comitê da campanha dele e tenho a lembrança da preocupação da minha família, com medo de que fosse depredado. Temiam também que meu avô, que estava em campanha no interior, fosse agredido. Mas, nada disto aconteceu.

 Em 1976, eu vivia em Brasília quando Juscelino Kubitschek morreu (acidente ou assassinado?) no dia 22 de agosto. Estava no final da gravidez do meu primeiro filho. Ernesto Geisel era o “presidente” e estávamos em plena ditadura.  

Houve uma cerimônia no Rio de Janeiro e depois, no dia 24, o corpo foi levado para Brasília para ser enterrado lá.

Meu marido e eu nos postamos num ponto do trajeto em que o cortejo faria do aeroporto até a catedral onde seria velado. Mas não houve cortejo, o caixão foi colocado dentro de uma Kombi que passou em altíssima velocidade, seguida por centenas de carros. Foi uma decepção!

Minha avó Dulce estava em Brasília, para acompanhar o meu parto, hospedada na casa de nossos queridos amigos Majzinha e Chico Meirelles. Eles moravam na Asa Sul, bem pertinho da avenida por onde, no final da tarde, passaria, o caixão com o corpo de Juscelino.

Apesar do tamanho da minha barriga, eu queria participar e minha avó convenceu os demais, que ficaram preocupados, de que eu poderia ir. Pegamos os banquinhos da cozinha e lá fomos nós.

Os milicos programaram que o transporte do caixão até o cemitério seria feito em um carro de bombeiros. Mas, a multidão emocionada de milhares de pessoas não permitiu. Então, o caixão foi levado por eles que cantavam o hino nacional, o “Peixe Vivo” (a música preferida de Juscelino) e gritavam vivas à democracia.

Não lembro se chorei, mas hoje esta vivência me emociona.

No dia seguinte, só alegria, nasceu meu filho Ricardo!

22.5.24

Meus vídeos/ parte I

Como não ando escrevendo nada, resolvi mostrar alguns vídeos meus. 
O primeiro que fiz foi em 2008, usando um programinha bem simples, o "Movie Maker" do Windows. Fui aprendendo e cada vez gostando mais.
Os que compartilho aqui são os vídeos postados no Youtube como "públicos". No meu canal, tenho muitos outros que fiz como registro de momentos importantes da minha vida e da vida da minha  família, presentes para os amigos, enfim muito pessoais.
Até a alguns meses atrás, fiz os vídeos com o mesmo programa gratuíto. Mas, me animei e comprei um mais moderno e com mais ferramentas de edição que estou aprendendo a usar. 
Espero que tenham paciência para ver (são bem curtinhos, rsrs) e que gostem! Abraço a todos


2012:
amanheceres e entardeceres

Miradouro de Dom Pedro de Alcântara/ Lisboa

Avenida dos Aliados / Porto

2013:
A magia de Escher

Morro da Igreja/ Urubici

Bem-vinda primavera!

Entardecer

2014:
Cataratas do Iguaçu

Yo pisaré las calles nuevamente

Oceanário de Lisboa