Tenho recebido mensagens de alguns
amigos assustados com a possibilidade de termos Dilma como presidente do
Brasil. Em sua maioria, estas mensagens são carregadas de raiva e
escárnio, sem nenhum resquício de debate político, de projetos e/ou de idéias.
Se as informações que as mensagens contêm
são verdadeiras ou não, parece que não interessa, mesmo para aqueles que acusam
os políticos de mentirosos. São passadas adiante muitas e muitas e muitas vezes
e acabam se tornando “verdadeiras”. Vou votar na Dilma. Não sou imparcial e não
acredito na imparcialidade de ninguém. Sejamos padres, jornalistas,
“celebridades”, todos temos posição. Penso que, até mesmo ao não nos
posicionarmos, estamos tomando posição.
É impossível sermos imparciais porque temos
sentimentos, desejos e opiniões. Por isto, no mínimo, deveríamos nos preocupar
em saber de onde vem a informação, principalmente porque a internet é uma fonte
de lendas.
Mas, não é isto que está acontecendo. Se é
contra a Dilma e contra o Lula, então é verdade!
Alguns exemplos: - “Dilma não pode entrar nos EUA porque foi
condenada lá pelo seqüestro do embaixador americano nos anos 60”. Ela não só
não participou da ação (até a Veja sabe disto), como já esteve duas vezes
naquele país e até encontrou-se com Obama, com direito a foto (à disposição via
google);
- “Dulce Maia, que jogou uma bomba no
consulado norte-americano em São Paulo, ferindo um jovem, era Dilma”. Dulce
Maia existe, mora em Cunha/ SP e não participou do seqüestro (conforme noticiou
Elio Gaspari na FSP em 2008, tendo depois se desculpado). Somente três homens
participaram e suas identidades são públicas. Dulce processou o jornal por
danos morais e ganhou a causa.
As pessoas acreditam em tudo! Pessoas que
tiveram educação, que têm acesso à cultura, que sempre tiveram e têm roupa e
sapato no inverno, comida farta na mesa, que viajam nas férias, que se
consideram bem informadas e cultas, cujos filhos e netos estudam em escolas
caras, acreditam em tudo! Fico pasma...
Me preocupa o envio destas informações
mentirosas, como se fossem verdadeiras. Não porque podem prejudicar a eleição
de Dilma, mas porque isto demonstra o quanto podemos perder nossa racionalidade
e ficar, se não cegos, míopes.
Querem ver como é fácil? Quem de nós sabe ou se lembra que o problema
de quebra do sigilo fiscal que embasou o absurdo pedido de impugnação da
candidatura de Dilma aconteceu em 2009 quando ela ainda não era candidata? E
que abrange os dados de cerca de 140 pessoas? E que a corregedoria da Receita
Federal já havia aberto o inquérito que “aponta para um esquema de compra e
venda de informações, sem nenhum envolvimento do governo ou partidário, com
pagamento de propinas pelo acesso à renda de alguns endinheirados”?
Quem de nós sabe ou se lembra que o
Serra também foi exilado e anistiado (portaria nº 2.543, de 18 de dezembro de
2002) e se aposentou como professor da Unicamp graças ao tempo de serviço
concedido nesta portaria (“... conceder-lhe a contagem de tempo de serviço de
janeiro de 1966 a fevereiro de 1978, excluindo-se o ano de 1975 totalizando 11
anos e 29 dias”)?
Quem de nós sabe ou se lembra que o
“mensalão” foi criado pelo PSDB, em 1998 na campanha do então governador
mineiro e atual senador Eduardo Azeredo, que está sendo processado como um dos
principais mentores e principal beneficiário do esquema implantado? Porque será
que para a imprensa não existe o “mensalão” do PSDB, só o do PT?
Quem de nós sabe ou se lembra do
escândalo da compra de votos pelo governo FHC, em 1997, para possibilitar a
aprovação da emenda da reeleição? E havia gravações de conversas de deputados
que diziam ter vendido seus votos para aprovar a reeleição por R$ 200 mil cada
um, e acusavam outros de terem feito o mesmo. Dois deles renunciaram, e o
governo abafou uma CPI...
Quem de nós sabe que no “Relatório de
Monitoramento Global 2010” da Unesco/ONU, o “Bolsa Família” é considerado uma
“medida eficiente para reduzir os déficits de financiamento da educação e os
problemas de aprendizagem causados pela desnutrição dos alunos”?
Pois, para
Kevin Watkins (da Unesco e coordenador do relatório), “O Brasil e a comunidade
internacional ainda não se deram conta da importância e do impacto de um
programa como o Bolsa Família". E não é que ele tem razão?
Certamente se nós, da classe média, tivéssemos
menos medo da verdadeira democracia, que torna possível o acesso de todos os
brasileiros à educação, saúde, segurança e habitação (palavras que se tornaram
chavões nas campanhas eleitorais), e tivéssemos interesse em aceitar e conviver
com as diferenças, não passaríamos adiante tantas “verdades” não comprovadas!
Mas, para isto, necessitamos das discussões sobre idéias, que andam muito
escassas.
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