8.8.21

Até um dia, querido Alexandre.

 

Em 1988, trabalhava no CODEC (Conselho de Cultura do Estado) quando conheci o engenheiro responsável pela montagem das arquibancadas de um evento que eu estava produzindo.

Com muito orgulho contou que o filho organizava  as “Semanas Culturais” (não tenho certeza se era este o nome) do Colégio Militar, onde estudava. Pedi que ele falasse com o filho sobre a possibilidade dele trabalhar comigo na preparação do evento. Acho que era a Latinomusica, onde estiveram presentes vários grandes nomes da música deste nosso canto do mundo e entre eles Chico Buarque. Ele nunca apareceu e eu esqueci o assunto.

Dois anos depois, pedi reingresso para o curso de Comunicação da UFRGS e nos primeiros dias de aula conheci o Alexandre. Foi amor à primeira vista.

Um belo dia contou que há uns anos o pai sugeriu que ele procurasse uma amiga que trabalhava no CODEC, onde havia uma possibilidade de estágio. Ele nem pensou em fazer isto porque imaginou que esta amiga do pai não teria nada a ver com ele. E assim nosso encontro foi adiado, rsrsr

No ano anterior eu tinha perdido um grande amigo, um irmão de alma, Alexandre Schneiders da Silva. Quanto mais convivia com meu novo amigo, mais me dava conta das semelhanças entre eles: a inteligência, a sensibilidade, o carinho, a homossexualidade, a profundidade de suas reflexões e o grande amor pela Elis. Quando descobri que o sobrenome era Rocha da Silva, fiquei muito impressionada, era demais, rsrsr.

Não posso dizer que o Alexandre Rocha tenha vindo substituir o outro Alexandre porque cada querido da gente ocupa um lugar especial no nosso coração, mas me ajudou muito a aceitar a ausência. 

Fomos nos conhecendo mais, nos gostando mais, abandonei a faculdade mas não nos abandonamos.

Ele contava que eu fui a primeira pessoa a visitá-lo quando criou asas e foi morar sozinho. E ríamos muito quando nos lembrávamos do dia em que foi estudar na minha casa e eu só ofereci acepipes saudáveis, quando o que ele gostava de comer eram aquelas porcariazinhas industrializadas, rsrs

Riamos muito, sempre ríamos muito quando estávamos juntos. Muitas vezes ele se aprofundava tanto me contando sobre os temas de suas pesquisas que eu precisava pedir para ele parar porque não estava entendendo nada, rsrsrs.

Foi um grande fã e incentivador do meu cantar, muito mesmo e nunca se conformou porque parei de cantar!

Mudei para Florianópolis, mas continuamos juntos. No início deste ano ligou para contar que tinha descoberto um câncer no pâncreas e que teria pouco tempo de vida. Nem sei dizer o que senti, nenhuma palavra pode expressar. Contou também que casaria com o seu amor Daniel e, com alegria, estive com eles na festa virtual que celebrou este momento feliz.

Ontem à noite se foi e deixou um lugar vazio no meu e em muitos outros corações.

Vai em paz, querido amigo. 

Te amo pra sempre, Alexandre.



E mais uma destas coincidências! Antes de encontrar o Alexandre, montei para a Prefeitura de Porto Alegre uma exposição sobre o projeto "O Guaíba Vive".

E quem estava na foto, captada pelo fotógrafo da prefeitura, admirando a exposição? 


Ao som de "Cais":

https://youtu.be/uBlyWZrf9JY


p.s. o casamento do Alexandre com o seu amor Daniel foi comemorado com uma festa e registrei o momento em um vídeo:


3 comentários:

Maria Betânia Ferreira disse...

Mais uma vez, confirma-se o tecido misterioso dos vínculos que, com o passar do tempo, fazem tanto sentido. Belo relato. 💕🌟

Ricardo Dagnino disse...

Uma perda enorme. Sinto muito, mãe!

Maria Lucia disse...

Queridos Maria Betânia e Ricardo, obrigada queridos.